sábado, 10 de março de 2012

O meu mundo

Quando entrei em Medicina em Santiago Compostela larguei a vida que odiava na Republica Dominica e voltei para casa, para o meu país. Foi maravilhoso, conheci o H. e nem tinham começado as aulas, já estávamos a namorar. De repente tudo na minha vida começou a fazer sentido. Família por perto, semana em Santiago, fins de semana em casa, amigos e um novo namorado. De repente tinha a vida que sempre tinha sonhado. Mas Santiago deixou de ser um sonho mal começaram os exames. Cada exame era um pesadelo. Tardei a adaptar-me a exames anuais e semestrais, a encontrar um método de estudo e passei a odiar o sistema. Derrubei imensas lágrimas em cada fracasso que obtive, em cada luta que travei no estudo. Ás vezes não organizei bem o estudo, outras vezes não soube estudar ou então senti que não tinha capacidade para tanto. Mas nunca me sentei à sombra da Bananeira. Vinha o Agosto, eu fechava-me em casa a estudar e em Setembro lá conseguia. Depois de descobrir toda esta dificuldade veio o restaurante, que ainda mais me dificultou a vida. Passou a ser semana em Santiago e fim de semana a trabalhar. E para ainda piorar, o H. como Dj da casa, meter Karaoke e música. Além de ser difícil conciliar estudo e trabalho, tirou-me a minha época de descanso, tirou-me tempo para mim e para a minha relação. No início andei às cabeçada, andava super cansada, dormia as viagens todas Santiago-Braga e a minha relação amorosa sofreu um abanão. Deixaram de haver idas ao cinema, saídas à noite ou jantares fora. Deixou de haver tempo para nós e tempo para os amigos. Sair do restaurante às 2 da manhã cansada só dava vontade de ir dormir e descansar. Eu confesso que já não era de sair muito. Saíamos as vezes que nos apeteciam. Adorava era ficar enrolada numa manta a conversar ou a ver um filme, a dar e a receber miminhos e a dormitar. Ir ao MacDonalds às tantas da manhã. Ir para a Póvoa passar o fim de semana a dois. Dançar, nem que fosse em casa. Não duvido, que esta vida preenchida me trouxe uma nova dimensão de mim mesma, me torne uma pessoa mais forte e mais admirável mas quando a determinada altura onde estava o meu mundo, onde estava "EU". A minha vida passou a ser estudo e trabalho. De repente dei-me conta que não estava a "viver". Demorei algum tempo a perceber isso, talvez porque a Republica Dominica me fez abrandar demasiado. Porque me cansou e passei a viver em outro extremo. 
Foi por isso que em 2011 comecei a marcar viagens, deixei de gastar o meu dinheiro só em tecnologia, roupa e coisas fúteis e fui atrás da experiência, das vivências, de conhecer. Isso o restaurante, já me trouxe uma más valia, fazer um mealheiro. 
Eu sempre quis ser uma pessoa com mundo e isto por influencia do meu pai. Conhecer novas realidades,  pessoas com realidades diferentes. Porque o que nos torna diferente não é o que conquistamos mas o caminho que fizemos até lá. E eu não quero ser só Médica, eu quero toda aquela bagagem cultural de ter vivido diferentes culturas, diferentes realidades. De ter viajado e de conhecer pessoas dos quatro cantos do mundo. Não me quero limitar a deixar passar o tempo e olhar para trás um dia, sentido que não fiz nada. 
Foi por isso que no ano passado senti que estava na altura de eu fazer algo na minha vida. Decidir fazer intercâmbio um semestre, não foi só o facto de fazer cadeiras, de adiantar um ano no meu percurso académico mas sim, fugir de toda aquela "pequena realidade" que me aprisionava. Eu precisava de "viver", de aproveitar esta fase da minha vida. Porque eu quero chegar aos 30 anos e construir família. E aí sim, está na hora de eu assumir outras responsabilidades. Agora eu preciso de viver para mim, mas principalmente terminar o meu curso. 

(ainda não marquei nenhuma viagem este ano)



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