sexta-feira, 7 de março de 2014

Urgências ingratas

Pior que trabalhar 12 horas nas urgências de pediatria, não parando sequer para um café, para lanchar, para beber ou ir à casa de banho, apenas um curto almoço, é levar sempre com pessoas a mandar vir connosco. Mesmo que a urgência que levou os pais a levar a criança, afinal não seja tão urgente e que eu não tenha descansado um minuto. Talvez não entendam que tenho de me concentrar, que tenho de estar atenta e tenho que escrever, para o meu interesse e para o interesse do doente, tudo no computador. E isso leva tempo. É triste, mas às vezes passo mais tempo em frente a um ecrã do que a ver propriamente o doente. Mas  para eles, devo estar a jogar solitário porque sempre que a porta do consultório se abre espreitam para dentro e olham-me com má cara. Não entendem, que perco tempo completar histórias clínicas de doentes, a requisitar exames, a ver resultados e a internar doentes. Mas mais triste, é dar-me conta que cada vez mais as pessoas se habituaram a reclamar por tudo e por nada. Somos médicos, mas somos humanos. Chego ao fim do dia a desfalecer e ainda venho para casa fazer o jantar. 

C. 

3 comentários:

  1. Tudo o que posso aqui dizer é, força nisso. Médicos, os heróis de traje alvo. Respeito-vos muito pelo que fazem. Haverá sempre quem não reconheça o vosso trabalho, mas dêem mais ouvidos àqueles que vos apreciam ao invés de àqueles que vos julgam sem nada saber.

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  2. As pessoas têm muita dificuldade em se porem no lugar dos outros, a falta de empatia que para aí anda é cada vez maior e é triste que assim seja. Tem muita força nesses dias, acredita que o teu trabalho acaba por ser valorizado :) *

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